Vitor J. Longo

Audaces Fortuna Juvat

Personalidade nos negócios

Hoje em dia, ter personalidade virou crime. Ser decidido, convicto, virou desvio de conduta. Ser quem se é virou heresia.

Esse ponto, no aspecto empresarial, é notavelmente um germe que impede as empresas de se tornarem grandes, desenvolverem culturas fortes e ganharem robustez — não é por acaso que, segundo o levantamento de dados atualizados de março de 2024 pelo Empresômetro, mais de 90% das empresas brasileiras faturam menos de R$200 mil por mês.

Afinal, para desenvolver uma empresa forte, com uma cultura robusta e capaz de se impor no mercado — independentemente do setor — é preciso que o dono ou fundador tenha uma personalidade concreta. Que saiba se impor. Que tenha força moral para não querer ser amado. Que tenha vontade firme para fazer prevalecer sua visão e valores, independentemente do que os colaboradores ou o mercado pensem.

Empresas não saem do zero — não crescem — sem que o fundador tenha uma firmeza interior. Se o fundador não tem uma robustez em sua personalidade, seus valores e sua cultura pessoal, não é capaz de formar uma cultura de resultados e liderar as pessoas.

É claro, como relata uma ampla literatura de gestão, o papel do líder com o tempo é se tornar cada vez mais dispensável no próprio negócio. Mas se ele não tem força moral, ele não será capaz de chegar nesse estágio.

Então, a formação da personalidade é imprescindível para o desenvolvimento de uma cultura empresarial nos primeiros anos do negócio.

Mas hoje, o politicamente correto tem perfurado quase todas as camadas da nossa sociedade. Juntando isso à nossa moleza afetiva, nossa fraqueza moral e nosso acovardamento diante das pressões externas, temos uma cultura empresarial frouxa — mais vale não incomodar ninguém do que ter resultado de verdade.

Vejo cada vez mais empresas e donos sem brio, que aderem a tudo quanto é da “moda”, moldam seus comportamentos para agradar funcionários, clientes — mesmo que isso seja contra seus valores. Aliás, exceção são aqueles que têm claro para si seus valores interiores.

Quantas vezes você, para agradar o meio social, agradar colaboradores, clientes, não adota condutas que são completamente fora do que você quer? Você deixa de ser você mesmo. Bom, isso aí é de fato o fracasso.

Imagine se Winston Churchill tivesse aceitado as pressões de seus pares para negociar a paz com o Hitler durante a Segunda Guerra Mundial — onde estaríamos?

Churchill salvou o Ocidente porque mandou os frouxos à merda. E você não consegue nem demitir o incompetente do seu time porque tem medo de virar meme no WhatsApp.

Goethe já dizia que a maior força do mundo é a personalidade humana. Se você não desenvolver sua personalidade, sua força moral para liderar sua organização, será levado por qualquer vento que sopre.

Analisamos os grandes líderes que existiram — vejam os discursos e a biografia de Churchill, por exemplo. Enormes pressões dos pares e da sociedade exerciam sobre ele, mas sua capacidade de se impor e fazer prevalecer seus valores foi mais forte que sua inclinação a agradar e ser aceito.

Então, das duas uma: ou você quer vencer, ou você quer agradar. Se for adequar sua conduta pensando no que o estagiário vai pensar de você, você está fodido, porra! Já é melhor ir abrindo falência…

Esse câncer empresarial só leva sua empresa para a UTI: cultura fraca, vitimização, falta de comando — e você ainda vai querer competir no mercado desse jeito?

Aí você se decide. Se você não é capaz de mandar todo mundo se foder, quando necessário, porque tem medo de ser mal visto, vai inevitavelmente fracassar, acredite!

Eu mesmo, certa época, contratei um moleque frouxo na minha operação — claro que o erro foi meu, contratei às pressas e me ferrei. O garoto era um mexeriqueiro, ficava de ninharia e acreditava ter um rei na barriga. Típica juventude brasileira que acha que tem muitos direitos e poucos deveres. Chegou um momento em que falei: “Basta, meu filho! Sai da minha frente que não tolero essa porra aqui não!”.

Imagina se eu ficasse pensando o que iam achar de mim… que eu era rude demais, intolerante, arrogante, etc. Bom, eu quero é que se foda o que pensam sobre mim. Eu sei o que estou fazendo.

Imagine se eu ficasse pensando sobre o que meus filhos pensam sobre mim — bom, teria que comprar fraldas e me adequar a eles. Ora, porra! Você que é o dono, você que é o adulto da empresa, então tome as rédeas e faça o que precisa ser feito!

Empresário que tolera merda por medo de desagradar já tá com um pé no buraco.Liderança não é ser querido. É ser respeitado. E se o respeito vier com ódio, que venha. Melhor ser temido por ser justo do que amado por ser frouxo.

Não tente ser compreendido o tempo todo — você não será. E se precisa da compreensão dos outros pra fazer o que precisa ser feito, então você já perdeu. Compreensão é pra quem tem tempo, pra quem tá na arquibancada. Você tá no campo, porra.

Enquanto você explica, o mercado te engole. O ex-primeiro-ministro inglês Benjamin Disraeli dizia: “Never complain, never explain, never apologise”, ou seja, nunca se queixe, nunca se explique, nunca se desculpe.

Então, aceite logo: você vai ser mal interpretado, vai ser rotulado, vai ser odiado — e isso é bom. Porque só quem se impõe incomoda. E só quem incomoda move as peças do tabuleiro.

Lembro certa vez quando falaram sobre mim: “Ele é uma boa pessoa, o único problema é que ele se impõe demais.” Ora, prefiro me impor do que morrer como um morno que não incomoda ninguém.

E como disse Roosevelt no discurso O Homem na Arena:

“[…] e quem, que no pior dos casos, se falhar, ao menos falha ousando grandeza, para que seu lugar jamais seja com aquelas frias e tímidas almas que não conhecem vitória ou fracasso.”

Se é pra agradar, vai vender sorvete. Se é pra liderar, enfia o pé na porta, manda o necessário e enterra de vez essa porra de necessidade de aceitação.

É melhor matar sua carência do que sepultar a própria empresa.

Porque, no fim das contas, quem não manda, obedece. Quem hesita, rasteja.

E quem quer ser amado por todos, acaba limpando a bosta dos próprios funcionários.

Agora decide: você quer ser empresário ou quer ser o mascote da firma?